Espero em vão. E, sabendo Que essa que espero não vem, Vou cantando e vou sofrendo, De saudades do meu bem... Que amar é uma angustia enorme Sei, porque amores já tive... Quem tem amores não dorme, Mas quem não ama, não vive... Meu bem deixou-me. Sofrendo Canto... Mas quantos também Vão cantando e vão morrendo De saudades do seu bem... E ouço a cantiga e, ouvindo Essa dor, sofro, porque Eu fico também sentindo Saudades não sei do quê...
Em meus momentos escuros Em que em mim não há ninguém, E tudo é névoas e muros Quanto a vida dá ou tem, Se, um instante, erguendo a fronte De onde em mim sou aterrado, Vejo o longínquo horizonte Cheio de sol posto ou nado, Revivo, existo, conheço, E, ainda que seja ilusão O exterior em que me esqueço, Nada mais quero nem peço. Entrego-lhe o coração.
(Fernando Pessoa)