Quando amanhecia antes, já era noite e tudo doía. Eu tinha um punhado de angústia no peito, eu era a personificação da melancolia. Tive que aprender a estar comigo, fiz grandes e novos amigos, desenterrei o meu sorriso e arejei meu coração. Quando amanhecia, antes nunca era dia. O meu afeto pasteurizado com prazo de validade vencido. O seu abraço cinematográfico, técnico como nos filmes. Mas a cena era perfeita para quem via. Mas a cena era só encenação, eu sabia. Quando amanhecia antes, eu estava oca, fazia sol, era verão, mas me agarrava aquele frio. Havia tesão, sem comunhão.A nossa excitação pedia socorro. E almejávamos o gozo absoluto para manter incólume aquela ofegância que chamávamos de amor. Quando amanhecia, eu tinha o sono dos sonhos perdidos. Antes, eu não sabia... A noite morava em mim, nunca era dia.