Se escrevo o que sinto é porque assim diminuo a febre de sentir.
sexta-feira, 27 de dezembro de 2013
"Eu sou um ser totalmente passional. Sou movida pela emoção, pela paixão... tenho meus desatinos... Detesto coisas mais ou menos... Não sei conviver com pessoas mais ou menos... Não sei amar mais ou menos... Não me entrego de forma mais ou menos... Se você procura alguém coerente, sensata, politicamente correta, racional, cheia de moralismo... Esqueça-me!"
Clarice Lispector
"Não sinto nada mais ou menos, ou eu gosto ou não gosto. Não sei sentir em doses homeopáticas. Preciso e gosto de intensidade, mesmo que ela seja ilusória e se não for assim, prefiro que não seja. Não me apetece viver histórias medíocres, paixões não correspondidas e pessoas água com açúcar. Não sei brincar e ser café com leite. Só quero na minha vida gente que transpire adrenalina de alguma forma, que tenha coragem suficiente pra me dizer o que sente antes, durante e depois ou que invente boas estórias caso não possa vivê-las. Porque eu acho sempre muitas coisas – porque tenho uma mente fértil e delirante – e porque posso achar errado – e ter que me desculpar – e detesto pedir desculpas embora o faça sem dificuldade se me provarem que eu estraguei tudo achando o que não devia. Quero grandes histórias e estórias; quero o amor e o ódio; quero o mais, o demais ou o nada. Não me importa o que é de verdade ou o que é mentira, mas tem que me convencer, extrair o máximo do meu prazer e me fazer crer que é para sempre quando eu digo convicto que nada é para sempre."
Gabriel García Márquez
Nada me prende, a nada me ligo, a nada pertenço.
Todas as sensações me tomam e nenhuma fica.
Sou mais variado que uma multidão de acaso,
Sou mais diverso que o universo espontâneo,
Todas as épocas me pertencem um momento,
Todas as almas um momento tiveram seu lugar em mim.
Fluído de intuições, rio de supor - mas,
Sempre ondas sucessivas,
Sempre o mar - agora desconhecendo-se
Sempre separando-se de mim, indefinidamente
Fernando Pessoa
Eu não quero perder nada dos meus erros e acertos.
É com muito tropeços, que se aprende a ser grande.
Que em muito há de ser tolerante.
Que a fé sozinha, não é o bastante.
Quero passar por tudo, em tudo, aprendendo de todos.
Calando mais meus impulsos, escutando mais de meu Deus.
Porque daí eu sei, que eu vou estar pronta,
e que amadurecer, não é somente uma questão de se ter sorte...
Que embora assim pequena,
eu vou ter aprendido a ser forte!
Cáh Morandi
Vendo urgente dor semi-nova, com pouco uso, leve arranhão na borda superior esquerda causado por um sorriso irresponsavelmente atirado pela janela. Aceito troca por alegria mesmo que com defeito ou melancolia regada à coca-cola. Não aceito esperança porque, mesmo sendo a última, acaba morrendo. Tratar com o proprietário.
André Gonçalves
Nem especialmente alegre ou triste se precisa estar. Ocorre como os chamados movimentos autônomos do corpo. Sem aviso me apanho cantando: "... Atestam-te os meus olhos rasos d'água a dor que a tua ausência me causou...." São preciosos registros, farelos de ouro, retalho de pano bom. Me levanto para guardar, botar no cofre, certamente em vão, têm natureza de nuvem, passam. Você olha, acha bonito, mas segurar não pode. Sofro por causa do meu espírito de colecionador-arqueólogo. Quero pôr o bonito numa caixa com chave para abrir de vez em quando e olhar. [...]
Adélia Prado
Gosto das perdas que me tiram tudo. Pra sentar em mim, olhar ao redor, e ficar. Até redescobrir em mim força e possibilidades de recomeçar. Tudo que vivi já me ampliou os vãos de dentro, e tanto, que me sinto tão menor em mim. Mas, com espaços para crescer. Silêncio. Tudo que quero dizer está na ponta dos dedos.
Cecília Braga
Talvez não fosse amor, afinal. A gente se apega tanto a algum tipo de sentimento disponível que acaba idealizando o que não existe. Talvez seja essa vontade de amar desesperadamente alguém. Nunca sabemos realmente o que espera por nós no final da estrada e nem sempre é tudo aquilo que a sonhamos. Não era amor, se fosse deixaria algo de bom. Talvez um dia a gente consiga aceitar isso. E quem sabe um dia a gente consiga se perdoar por tantos erros cometidos na esperança de fazer tudo dar certo. Um dia, talvez, mas agora não.
"é loucura odiar todas as rosas porque uma te espetou. entregar todos os teus sonhos porque um deles não se realizou, perder a fé em todas as orações porque em uma não foi atendido, desistir de todos os esforços porque um deles fracassou. é loucura condenar todas as amizades porque uma te traiu, descrer de todo amor porque um deles foi infiel. é loucura jogar fora todas as chances de ser feliz porque uma tentativa não deu certo. espero que na tua caminhada não cometa essas loucuras. lembrando que sempre há uma outra chance, uma outra amizade, um outro amor, uma nova força. para todo fim um recomeço."
O Pequeno Príncipe
"quero um amor sossegado. alguém para me abraçar, assistir um filme, jogar baralho, viajar, conversar, contar o dia, fazer cafuné, dar apoio, confortar. quero troca, carinho, respeito, cumplicidade. o amor é uma amizade sem inveja. é um sonho com realidade. é uma realidade sem photoshop. o amor é um abraço apertado, um olhar que se encontra, um silêncio que não incomoda, um barulho de onda, um gosto bom. não tem serenata, mas tem bilhetinho dentro da bolsa. e rotina, cansaço, discussão, divergências de opinião. mas, acima de tudo, tem paciência. e vontade."
Clarissa Corrêa
domingo, 22 de dezembro de 2013
Ainda pior que a convicção do não, é a incerteza do talvez, é a desilusão de um quase. É o quase que me incomoda, que me entristece, que me mata, trazendo tudo que poderia ter sido e não foi. Quem quase ganhou ainda joga, quem quase passou ainda estuda, quem quase amou não amou. Basta pensar nas oportunidades que escaparam pelos dedos, nas chances que se perdem por medo, nas idéias que nunca sairão do papel, por essa maldita mania de viver no outono.
— Luís Fernando Veríssimo
— Luís Fernando Veríssimo
Amor platônico é juvenil, não importa a idade. É uma vulnerabilidade constante, insegurança para qualquer passo em direção à pessoa desejada. É uma certeza de que tudo pode e vai dar errado no momento em que tentarmos quebrar essa fria distância entre os corpos. Amor platônico é amor só no nome. Sentimento indecifrável, mais parecido com encantamento e ilusão. Ocorre pela vontade de se apaixonar. É a idealização da paixão num biotipo específico, a necessidade de projetar em alguém o desejo por ser feliz. Amor platônico sonha ser correspondido e então desperta para uma realidade distante.
Ele não me olha. Ela nem sabe meu nome. Sofremos com isso na escola, na adolescência, com o vizinho gato e o primo impossível. Mal conhecemos e já amamos. Amor na forma de falar, um amor totalmente condicional, que sobrevive apenas na fantasia da realidade.
Platônico de Platão, que idealizava um amor sem cunho sexual. Da história, dos livros e da poesia para os dias de hoje. Um amor amador, que ainda tenta amadurecer, mas que vive uma efêmera eternidade. Sem sexo. Sem nexo. Ama-se pelo olhar, pelo jeito de passar a mão no cabelo, pelo barulho do salto alto no corredor. Ama-se pela calça jeans desbotada, pelo boné virado pra trás, pelo perfume que ficou na pele durante um abraço inesquecível quando fomos apresentados. Ama-se pela forma e não pelo conteúdo. Não conhecemos a história, tampouco os defeitos, porém amamos as qualidades que inventamos para aquela pessoa.
Um amor platônico será sempre platônico. Inalcançável. E é isso que o torna poético. A ilusão não conhece a dor. Enquanto sonharmos que podemos estar com aquela pessoa, existirá uma rasa felicidade – muito melhor do que uma profunda tristeza.
Amor platônico é a certeza da dúvida. Descobrimos ali o quanto podemos nos entregar. É a nossa iniciação emocional. Amor platônico parece frio, mas não é. Aquece a nossa alma infante, revela como um sentimento pode ser tão puro e como podemos nos descobrir sempre um pouco mais.
Amor platônico faz parte da vida. Ensina e alimenta o sonho de um dia sermos felizes no amor. Amor platônico faz a gente ter esperança, faz a gente amar antes mesmo do amor acontecer.
Por Chico Garcia,
Ele não me olha. Ela nem sabe meu nome. Sofremos com isso na escola, na adolescência, com o vizinho gato e o primo impossível. Mal conhecemos e já amamos. Amor na forma de falar, um amor totalmente condicional, que sobrevive apenas na fantasia da realidade.
Platônico de Platão, que idealizava um amor sem cunho sexual. Da história, dos livros e da poesia para os dias de hoje. Um amor amador, que ainda tenta amadurecer, mas que vive uma efêmera eternidade. Sem sexo. Sem nexo. Ama-se pelo olhar, pelo jeito de passar a mão no cabelo, pelo barulho do salto alto no corredor. Ama-se pela calça jeans desbotada, pelo boné virado pra trás, pelo perfume que ficou na pele durante um abraço inesquecível quando fomos apresentados. Ama-se pela forma e não pelo conteúdo. Não conhecemos a história, tampouco os defeitos, porém amamos as qualidades que inventamos para aquela pessoa.
Um amor platônico será sempre platônico. Inalcançável. E é isso que o torna poético. A ilusão não conhece a dor. Enquanto sonharmos que podemos estar com aquela pessoa, existirá uma rasa felicidade – muito melhor do que uma profunda tristeza.
Amor platônico é a certeza da dúvida. Descobrimos ali o quanto podemos nos entregar. É a nossa iniciação emocional. Amor platônico parece frio, mas não é. Aquece a nossa alma infante, revela como um sentimento pode ser tão puro e como podemos nos descobrir sempre um pouco mais.
Amor platônico faz parte da vida. Ensina e alimenta o sonho de um dia sermos felizes no amor. Amor platônico faz a gente ter esperança, faz a gente amar antes mesmo do amor acontecer.
Por Chico Garcia,
sexta-feira, 20 de dezembro de 2013
domingo, 15 de dezembro de 2013
"O meu amigo mais íntimo é o sujeito que vejo todas as manhãs no espelho do quarto de banho, à hora onírica em que passo pelo rosto o aparelho de barbear. Estabelecemos diálogos mudos, numa linguagem misteriosa feita de imagens, ecos de vozes, alheias ou nossas, antigas ou recentes, relâmpagos súbitos que iluminam faces e fatos remotos ou próximos, nos corredores do passado – e às vezes, inexplicavelmente, do futuro – enfim, uma conversa que, quando analisamos os sonhos da noite, parece processar-se fora do tempo e do espaço."
—Érico Veríssimo
"Contar é muito dificultoso. Não pelos anos que já se passaram. Mas pela astúcia que têm certas coisas passadas de fazer balancê, de se remexerem dos lugares. A lembrança da vida da gente se guarda em trechos diversos; uns com outros acho que nem se misturam (…) Contar seguido, alinhavado, só mesmo sendo coisas de rasa importância. Tem horas antigas que ficaram muito mais perto da gente do que outras de recente data. Toda saudade é uma espécie de velhice. Talvez, então, a melhor coisa seria contar a infância não como um filme em que a vida acontece no tempo, uma coisa depois da outra, na ordem certa, sendo essa conexão que lhe dá sentido, princípio, meio e fim, mas como um álbum de retratos, cada um completo em si mesmo, cada um contendo o sentido inteiro. Talvez seja esse o jeito de escrever sobre a alma em cuja memória se encontram as coisas eternas, que permanecem…"
—Guimarães Rosa.
—Guimarães Rosa.
"A vida precisa do vazio: a lagarta dorme num vazio chamado casulo até se transformar em borboleta. A música precisa de um vazio chamado silêncio para ser ouvida. Um poema precisa do vazio da folha de papel em branco para ser escrito. É no vazio da jarra que se colocam flores. E as pessoas, para serem belas e amadas, precisam ter um vazio dentro delas. A maioria acha o contrário; pensa que o bom é ser cheio. Essas são as pessoas que se acham cheias de verdades e sabedoria e falam sem parar. São umas chatas! Bonitas são as pessoas que falam pouco e sabem escutar. A essas pessoas é fácil amar. Elas estão cheias de vazio. E é no vazio da distância que vive a saudade…"
—Rubem Alves
—Rubem Alves
"Bastaria as pessoas serem mais sinceras, honestas e humildes, que veríamos comportamentos maravilhosamente diversificados, personalidades espontaneamente interessantes, equívocos rapidamente resolvidos, decisões amplamente mais libertas, preconceitos instantaneamente eliminados e atitudes surpreendentemente menos egoístas."
—Friedrich Nietzsche.
—Friedrich Nietzsche.
Não sei… se a vida é curta
ou longa demais para nós,
mas, sei que nada
do que vivemos tem sentido,
se não tocamos o coração das pessoas.
Muitas vezes basta ser:
o colo que acolhe,
o braço que envolve,
a palavra que conforta,
o silêncio que respeita,
a alegria que contagia,
a lágrima que corre,
o olhar que acaricia,
o desejo que sacia,
o amor que promove.
E isso não é coisa de outro mundo,
é o que dá sentido à vida.
É o que faz com que ela não
seja nem curta, nem longa demais,
mas que seja intensa, verdadeira,
pura enquanto ela durar…
—Cora Coralina
ou longa demais para nós,
mas, sei que nada
do que vivemos tem sentido,
se não tocamos o coração das pessoas.
Muitas vezes basta ser:
o colo que acolhe,
o braço que envolve,
a palavra que conforta,
o silêncio que respeita,
a alegria que contagia,
a lágrima que corre,
o olhar que acaricia,
o desejo que sacia,
o amor que promove.
E isso não é coisa de outro mundo,
é o que dá sentido à vida.
É o que faz com que ela não
seja nem curta, nem longa demais,
mas que seja intensa, verdadeira,
pura enquanto ela durar…
—Cora Coralina
sou uma mulher de gostos e versos. Um pouco ladra, eu diria. Roubo histórias, bordo palavras, costuro sonhos, desato pensamentos. Coisas de quem escreve, encare assim. Quem fica ao meu redor tem que entender que, vez em sempre, algo será tomado para e por mim, sem dó. Me aproprio indevidamente de vidas e falas. Não leve a mal se por ventura algum dia o seu sossego for passear junto comigo. E se por acaso a insônia se tornar a sua melhor amiga, admita que eu venci. Gosto de esfregar na cara do suposto adversário as minhas vitórias. Em certas ocasiões o mais digno é engolir tudo elegantemente.
clarissa corrêa
clarissa corrêa
"E havia uma gramática que dizia assim:
“Substantivo (concreto) é tudo quanto indica
Pessoa, animal ou cousa: João, sabiá, caneta”.
Eu gosto das cousas.
As cousas sim!…
As pessoas atrapalham.
Estão em toda parte.
Multiplicam-se em excesso.
As cousas são quietas. Bastam-se.
Não se metem com ninguém.
(…)
Mas o bom mesmo, são os adjetivos,
Os puros adjetivos isentos de qualquer objeto.
Verde. Macio. Áspero. Rente. Escuro. Luminoso.
Sonoro. Lento. Eu sonho
Com uma linguagem composta unicamente de adjetivos
Como decerto é a linguagem das plantas e dos animais.
Ainda mais:
Eu sonho com um poema
Cujas palavras sumarentas escorram
Como a polpa de um fruto maduro em tua boca,
Um poema que te mate de amor
Antes mesmo que tu saibas o misterioso sentido:
Basta provares o seu gosto…"
—Mario Quintana - De Gramática e de Linguagem
sábado, 7 de dezembro de 2013
Trago no corpo
Cicatrizes subcutâneas.
Trago no olhar
Uma tristeza subterrânea
Que o meu sorriso
Se empenhou
Em aniquilar.
Eu nunca fui vítima de nada
Mesmo quando me afoguei
Por não saber nadar.
Eu escolhi o mergulho
E corri o risco
De vivenciar minhas emoções
Em alto mar.
Trago na alma
Alegrias decorrentes
De uma parca memória.
Tenho um passado pesado
Mas reescrevi minha história.
Trago no peito
Apenas amor, gratidão.
A vida me ensinou
Que sobreviver à derrota
É uma grande vitória:
Superação.
Marla de Queiroz
Eu me torno emocionalmente saudável quando consigo desconstruir todas as tolices sobre amores salva-vidas e jogar a ideia surreal do príncipe encantado no lixo. Eu me torno emocionalmente saudável quando acredito que namorar deve ser leve mesmo quando intenso, e divertido mesmo quando há um sério comprometimento. Eu me torno emocionalmente saudável quando o que me ocupa é a minha vida e não a reação que tenho ao comportamento alheio. Eu me torno emocionalmente saudável quando percebo que determinada história não me abrange, me deixa inadequada, fere a minha autoestima e sinto que isto é o suficiente para eu tentar ser feliz e me abrir para outras possibilidades. Eu me torno emocionalmente saudável quando escolho os meus parceiros pelo que me agregam de luz e crescimento, não pelo desafio que me trazem quando se mostram emocionalmente indisponíveis ou abertos para viverem outras relações que não a nossa. Eu me torno emocionalmente saudável quando me permito ficar sozinha até atrair um alguém que esteja disposto a trocar, desbravar paisagens juntos, que esteja inteiro no lugar que escolheu. Eu me torno emocionalmente saudável quando, estar ou não estar com alguém sexo-afetivamente, não se torna a prioridade da minha vida, mas somente um dos meus desejos. Eu me torno emocionalmente saudável quando aprendo a dar nome aos meus sentimentos: e não confundo posse com excitação, dependência com paixão, rejeição com confusão alheia...
Eu me torno emocionalmente saudável quando dou amor, não carência.
Livrai-me do que desbota a minha lucidez e da alienação de achar que a felicidade está no Outro e não em mim. Que seja assim.
Marla de Queiroz
Eu me torno emocionalmente saudável quando dou amor, não carência.
Livrai-me do que desbota a minha lucidez e da alienação de achar que a felicidade está no Outro e não em mim. Que seja assim.
Marla de Queiroz
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