Nossa imaginação, inclinada por natureza a exaltar-se, e, ainda, excitada pela poesia, dá corpo a uma escala de seres onde ocupamos sempre um lugar o mais insignificante. Tudo o que está fora de nós parece mais belo, e todos os homens mais perfeitos do que nós. E isto é natural porque sentimos demasiado as nossas imperfeições, e os outros sempre parecem possuir precisamente aquilo que nos falta. Desse modo, nós lhe concedemos tudo quanto está em nós mesmos e, para coroar a obra, lhes atribuímos também certas qualidades ideais. E assim criamos nós mesmos em um conjunto de perfeições que por sua vez cria o nosso tormento.
Por outro lado, quando perseveramos em nossos próprios esforços, apesar da nossa fraqueza e dificuldades, avançamos muito mais que os outros, que remam e usam vela: é quando nos igualamos ou suplantamos os demais, que sentimos o nosso verdadeiro valor.
GOETHE, Os Sofrimentos do Jovem Werther