Memórias, crônicas e declarações de amor

Se escrevo o que sinto é porque assim diminuo a febre de sentir.

sábado, 18 de outubro de 2014

Foto: Sobrava um quarto no apartamento em que eu morava na infância/adolescência. Meu avô tinha nos deixado e junto com o vazio da sua ausência ficou também aquele cômodo que abrigava de tudo um pouco. Era meu espaço. Um lugar que não podia ser medido por metro quadrado, pois era o meu universo todo. Eu gostava de me trancar lá com os meus diários, de mexer na estante de livros do meu tio e ouvir música enquanto buscava coisas que nem eu sabia bem. Meu mundo interno era imenso e mais tarde eu entenderia que meus pensamentos ficariam sufocados e buscariam espaços maiores, como os existentes nas folhas de papel em branco. 

Escrever. O ato mais simples e mais intenso que pode existir. Qualquer um é capaz de fazê-lo, mas o que vai determinar as características será a forma de se fazer. Eu fazia pra mim, fazia por mim, e fazia porque era uma maneira de demonstrar minha admiração por todos aqueles que gostava de ler. Eles nunca saberiam, mas e daí? Era uma forma de aproximação pra mim. Eu não era Quintana, mas também achava que "a gente sempre deve sair à rua como quem foge de casa. Como se estivessem abertos diante de nós todos os caminhos do mundo". Não era Lispector, mas sempre que perdia um amor também sentia a falta "como se me faltasse um dente na frente: excrucitante". Não era Pessoa, mas também tinha como lema:"para ser grande, sê inteiro". Não era Cora Coralina, mas também gostava de pensar que a melhor forma de se viver é "removendo pedras e plantando flores.". Não era Vinicius, mas eu tinha um pouco da menina como uma flor. Que mulher não tem? Eu não era poeta, eu era poesia. Todos nós somos. Porque se você parar pra pensar, a poesia está no cotidiano. Não se faz um poema, se vive um poema. Talvez, por isso, nos vemos neles quando lemos. 

Mas então, depois de muito ler, de muito criar, me pergunto: qual é o real sentido de escrever? Se pudesse escolher, aonde eu desejaria que meus textos fossem? Por que dar minha cara à tapa e aos afagos? (sim! Sou muito feliz com os afagos). Por que tirá-los da gaveta, dos arquivos no computador, dos meus mais profundos pensamentos? Por que dividi-los se escrever era mais uma satisfação minha do que pretensão de algo? Não sei dizer. Mas um dia escrevi, um dia alguém leu, depois dez leram, depois alguns compartilharam, muitos me agradeceram, e eles tomaram vida própria. Passaram a seguir seus caminhos. Muitas vezes, os melhores caminhos, que nem nos meus melhores planos eu seria capaz de conduzi-los. 

Agora, escrevo para agradecer. Para dizer que não escolheria melhor destino para um texto do que um lugar onde ele pode ser sentido, não apenas lido. Recebi alguns recados de que um deles estava na parede da Unimed em Santa Maria, mas a minha alegria foi maior ainda quando descobri que está na parte de oncologia e que pessoas como a Sinzia (a dona da foto e o passarinho verde que me contou) sentem fé quando leem minhas palavras. 

Nunca fez tanto sentido escrever. Nunca foi tão intenso entender o poder das palavras. Nunca foi tão gratificante dividir. E se eu soubesse lá atrás, sentada no chão do quarto, que esse seria um dos rumos do que escrevo, nunca teria me perguntado: por que devo escrever?
Postado por GEH CAMPOS às 21:16
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Sou como você me vê...posso ser leve como uma brisa ou forte como uma ventania,depende de quando e como você me vê passar...suponho que me entender não é uma questão de inteligência e sim de sentir, de entrar em contato...tenho uma alma muito prolixa e uso poucas palavras, sou irritável e firo facilmente. Também sou muito calma e perdôo logo. Não esqueço nunca. Mas há poucas coisas de que eu me lembre...Tenho felicidade o bastante para ser doce,dificuldades para ser forte,tristeza para ser humana e esperança suficiente para ser feliz. Não me dêem fórmulas certas, por que eu não espero acertar sempre. Não me mostrem o que esperam de mim, por que vou seguir meu coração. Não me façam ser quem não sou. Não me convidem a ser igual, por que sinceramente sou diferente. Não sei amar pela metade. Não sei viver de mentira. Não sei voar de pés no chão. Sou sempre eu mesma, mas com certeza não serei a mesma pra sempre...Sou uma filha da natureza:quero pegar, sentir, tocar, ser. E tudo isso já faz parte de um todo, de um mistério. Sou uma só... Sou um ser...a única verdade é que vivo. Sinceramente, eu vivo.
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