Se escrevo o que sinto é porque assim diminuo a febre de sentir.
domingo, 17 de fevereiro de 2013
Os meus pés estão descalços, minhas mãos estão vazias. Trago o peito entulhado de sentimentos sem adjetivos possíveis. Um coração desestabilizado, terrível. A tarde rasga a pele do tempo e o sol desaba sua claridade em meus olhos. Choro. Meus cabelos estão desgrenhados, meus lábios ressecados pela avidez daquele beijo. Flutuo atravessando muros abstratos, fotografias abandonadas por seus porta-retratos e cadernos sem caligrafias. Transito em transe por ruas desabitadas, por pontes que não promovem encontros. Sou amada por algumas pessoas insípidas que precisam me enfiar em alguma gaveta vazia. Os abrigos me abismam. Hoje estou dura, crua, fria. Hoje estou maldosamente agressiva. Impulsionada a causar feridas, mas não conseguindo exercer com destreza o lado mau que há em mim. Magoei de maneira estabanada, não ganhei absolutamente nada, me dói tudo por dentro, me arrependo, e levo meses para me perdoar pela ferida que abri e que deixei ardendo. Meu lirismo fugiu de mim, larguei ao relento. E eu me sinto deslocada, pois me desabituei a ser assim, a estar assim. Mas quero desaçucarar minha imagem, borrar o rímel da paisagem, derrubar minhas lágrimas presas, tirar a maquiagem das certezas.
E isto é só o começo... ou o fim.
Marla de Queiroz