domingo, 28 de dezembro de 2014

Faxina



Estava precisando fazer uma faxina em mim… Jogar alguns pensamentos indesejados fora, lavar alguns tesouros que andavam meio enferrujados. Tirei do fundo das gavetas lembranças que não uso e não quero mais. Joguei fora alguns sonhos, algumas ilusões. Papéis de presente que nunca usei, sorrisos que nunca darei; joguei fora a raiva e o rancor das flores murchas que estavam dentro de um livro que não li. Olhei para meus sorrisos futuros e minhas alegrias pretendidas e as coloquei num cantinho, bem arrumadinhas, com bastante cuidado. Tirei tudo de dentro do armário e fui jogando no chão: paixões escondidas, desejos reprimidos, palavras que nunca queria ter dito, mágoas, lembranças de um dia triste. Mas lá também havia coisas e boas. Aquela lua cor de prata, um pôr do sol, uma música. Fui me encantando e me distraindo, olhando para cada uma daquelas lembranças. Aí, sentei no chão, para poder fazer minhas escolhas. Joguei direto no saco de lixo os restos daquilo que pensei ser amor; peguei palavras cheias de mágoas que estavam na prateleira de cima, e também joguei fora, no mesmo instante. Outras coisas que ainda me ferem, coloquei num canto para depois ver o que farei com elas, talvez as mande para o lixão. Aí, fui naquele cantinho, naquela gaveta que a gente guarda tudo o que é mais importante: o Amor, a Alegria, os Sorrisos e a Fé. Arrumei com carinho o amor encontrado, dobrei direitinho os desejos, coloquei perfume na esperança, passei um paninho na prateleira das minhas metas, deixei-as à mostra, para não perdê-las de vista. Coloquei nas prateleiras de baixo algumas lembranças da infância, na gaveta de cima as da minha juventude e, pendurado bem à minha frente, coloquei a minha capacidade de amar e de recomeçar.

Carlos Favaro

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Love


amortizing:

A lua me chama, eu tenho que ir pra rua





fuzilei:

porra


Ela é exatamente como os seus livros: transmite uma sensação estranha, de uma sabedoria e uma amargura impressionantes. É lenta e quase não fala. Tem olhos hipnóticos, quase diabólicos. E a gente sente que ela não espera mais nada de nada nem de ninguém, que está absolutamente sozinha e numa altura tal que ninguém jamais conseguiria alcançá-la. Muita gente deve achá-la antipaticíssima, mas eu achei linda, profunda, estranha, perigosa. É impossível sentir-se à vontade perto dela, não porque sua presença seja desagradável, mas porque a gente pressente que ela está sempre sabendo exatamente o que se passa ao seu redor. Talvez eu esteja fantasiando, sei lá. Mas a impressão foi fortíssima, nunca ninguém tinha me perturbado tanto. 

Caio Fernando Abreu sobre Clarice Lispector.

Eu era um acúmulo de palavras não ditas, tentativas frustradas, esperanças mal depositadas e sorrisos partidos dos lados. 

Caio Araújo


Sobre o Natal

Ah o Natal!!! Essa festa disfarçada de felicidade, que maioria se  enche de comida e bebida e está de
coração vazio ou talvez meio cheio, pelo menos até que o dia 26.
O Natal vai além disso...
Ôôô , ôô
Gente estúpida
Ôôô , ôô
Gente hipócrita


Mas a solidão, ah a solidão — é outra solidão. Ter provado outra vez desta solidão acho que me faz melhor. Ou mais humano, mais dolorido. 
(Caio Fernando Abreu. Carta a Guilherme de Almeida Prado)

Porque ver é permitido, mas sentir já é perigoso. Sentir aos poucos vai exigindo uma série de coisas outras, até o momento em que não se pode mais prescindir do que foi simples constatação.

(Caio Fernando Abreu. Os cavalos brancos de Napoleão, in: Inventário do ir-remediável)
Como ia dizendo, no meio da tarde lenta demais, escolheu que — se viesse alguma sofreguidão na garganta, e veio — diria qualquer coisa como olha, tenho medo do normal, baby.

(Anotações insensatas, in: Pequenas Epifanias)

sexta-feira, 14 de novembro de 2014





"Estou aceitando o fato de que algumas pessoas nasceram para sentir o amor, mas não para viver um."

-Caio Fernando Abreu


Espalho e acredito


"Espalhe que o amor não é banal. E que, embora estejam distorcendo o sentido verdadeiro dele nos tempos modernos de hoje, ele existe e é o ingrediente mais importante da vida, a própria poção mágica da felicidade."

-Mário Quintana.

PENSO

"Terrível é o pensar. Eu penso tanto e me canso tanto com meu pensamento que às vezes penso em não pensar jamais. Mas isto requer ser bem pensado, pois se penso demais acabo despensando tudo que pensava antes. E se não penso fico pensando nisso o tempo todo."

(Millôr Fernandes)

domingo, 9 de novembro de 2014

jeremiahketner:

New painting “The Great Big Owl”. I will be debuting prints and other merchandise of the Great Big Owl at Designer Con 2014 in November. There will be plenty of new releases at my booth so stay tuned for more info. #DesignerCon2014 #DesignerCon #Owl #JeremiahKetner #SmallAndRound


Como ia dizendo, no meio da tarde lenta demais, escolheu que — se viesse alguma sofreguidão na garganta, e veio — diria qualquer coisa como olha, tenho medo do normal, baby.

(Anotações insensatas, in: Pequenas Epifanias)


O amor é o objetivo último de quase toda preocupação humana; é por isso que ele influencia nos assuntos mais relevantes, interrompe as tarefas mais sérias e por vezes desorienta as cabeças mais geniais.


Arthur Schopenhauer


"Esquecer é uma necessidade. A vida é uma lousa, em que o destino, para escrever um novo caso, precisa de apagar o caso escrito."

Machado de Assis


Tanto tempo faz,
que li no teu olhar
A vida cor-de-rosa que eu sonhava
E guardo a impressão
de que já vi passar
Um ano sem te ver,
um ano sem te amar
Ao me apaixonar,
por ti não reparei
Que tu tivestes só entusiasmo
E para terminar, amor assinarei
Do sempre, sempre teu…

Renato Russo


É preciso que a saudade desenhe tuas linhas perfeitas,

teu perfil exato e que, apenas, levemente, o vento

das horas ponha um frêmito em teus cabelos…

É preciso que a tua ausência trescale

sutilmente, no ar, a trevo machucado,

as folhas de alecrim desde há muito guardadas

não se sabe por quem nalgum móvel antigo…

Mas é preciso, também, que seja como abrir uma janela

e respirar-te, azul e luminosa, no ar.

É preciso a saudade para eu sentir

como sinto - em mim - a presença misteriosa da vida.

Mas quando surges és tão outra e múltipla e imprevista

que nunca te pareces com o teu retrato.

E eu tenho de fechar meus olhos para ver-te.


Mario Quintana

Antes de amar-te, amor, nada era meu
Vacilei pelas ruas e as coisas:
Nada contava nem tinha nome:
O mundo era do ar que esperava.
E conheci salões cinzentos,
Túneis habitados pela lua,
Hangares cruéis que se despediam,
Perguntas que insistiam na areia.
Tudo estava vazio, morto e mudo,
Caído, abandonado e decaído,
Tudo era inalienavelmente alheio,
Tudo era dos outros e de ninguém,
Até que tua beleza e tua pobreza
De dádivas encheram o outono.

Pablo Neruda
APAGAR-ME

apagar-me
diluir-me
desmanchar-me
até que depois
de mim
de nós
de tudo
não reste mais
que o charme

(paulo leminski)

FATO

domingo, 26 de outubro de 2014



Sentia vontade de chorar, mas não saía lágrima alguma. Era só uma espécie de tristeza, de náusea, uma mistura de uma com a outra, não existe nada pior. Acho que você sabe o que quero dizer, todo mundo, volta e meia, passa por isso, só que comigo é muito freqüente, acontece demais.

— Charles Bukowski


“Só queria ficar perto dele. No máximo, deitar abraçado com ele. Na mesma cama. Nem um beijo, nada. Só um abraço, bem apertado.

— Caio Fernando Abreu




Não sei porque  depois de tantas experiências, ainda me espanto com a indiferença humana.
Qualquer calor - Ben Roots

domingo, 19 de outubro de 2014

Se houver um tempo de retorno,
eu volto.
Subirei, empurrando a alma
com meu sangue
por labirintos e paradoxos
- até inundar novamente o coração.


(Terei, quem sabe, o mesmo ardor
de antigamente.)

 Lya Luft

sábado, 18 de outubro de 2014

LOVE


Foto
Foto: #fernandagaona

Foto: Sobrava um quarto no apartamento em que eu morava na infância/adolescência. Meu avô tinha nos deixado e junto com o vazio da sua ausência ficou também aquele cômodo que abrigava de tudo um pouco. Era meu espaço. Um lugar que não podia ser medido por metro quadrado, pois era o meu universo todo. Eu gostava de me trancar lá com os meus diários, de mexer na estante de livros do meu tio e ouvir música enquanto buscava coisas que nem eu sabia bem. Meu mundo interno era imenso e mais tarde eu entenderia que meus pensamentos ficariam sufocados e buscariam espaços maiores, como os existentes nas folhas de papel em branco. 

Escrever. O ato mais simples e mais intenso que pode existir. Qualquer um é capaz de fazê-lo, mas o que vai determinar as características será a forma de se fazer. Eu fazia pra mim, fazia por mim, e fazia porque era uma maneira de demonstrar minha admiração por todos aqueles que gostava de ler. Eles nunca saberiam, mas e daí? Era uma forma de aproximação pra mim. Eu não era Quintana, mas também achava que "a gente sempre deve sair à rua como quem foge de casa. Como se estivessem abertos diante de nós todos os caminhos do mundo". Não era Lispector, mas sempre que perdia um amor também sentia a falta "como se me faltasse um dente na frente: excrucitante". Não era Pessoa, mas também tinha como lema:"para ser grande, sê inteiro". Não era Cora Coralina, mas também gostava de pensar que a melhor forma de se viver é "removendo pedras e plantando flores.". Não era Vinicius, mas eu tinha um pouco da menina como uma flor. Que mulher não tem? Eu não era poeta, eu era poesia. Todos nós somos. Porque se você parar pra pensar, a poesia está no cotidiano. Não se faz um poema, se vive um poema. Talvez, por isso, nos vemos neles quando lemos. 

Mas então, depois de muito ler, de muito criar, me pergunto: qual é o real sentido de escrever? Se pudesse escolher, aonde eu desejaria que meus textos fossem? Por que dar minha cara à tapa e aos afagos? (sim! Sou muito feliz com os afagos). Por que tirá-los da gaveta, dos arquivos no computador, dos meus mais profundos pensamentos? Por que dividi-los se escrever era mais uma satisfação minha do que pretensão de algo? Não sei dizer. Mas um dia escrevi, um dia alguém leu, depois dez leram, depois alguns compartilharam, muitos me agradeceram, e eles tomaram vida própria. Passaram a seguir seus caminhos. Muitas vezes, os melhores caminhos, que nem nos meus melhores planos eu seria capaz de conduzi-los. 

Agora, escrevo para agradecer. Para dizer que não escolheria melhor destino para um texto do que um lugar onde ele pode ser sentido, não apenas lido. Recebi alguns recados de que um deles estava na parede da Unimed em Santa Maria, mas a minha alegria foi maior ainda quando descobri que está na parte de oncologia e que pessoas como a Sinzia (a dona da foto e o passarinho verde que me contou) sentem fé quando leem minhas palavras. 

Nunca fez tanto sentido escrever. Nunca foi tão intenso entender o poder das palavras. Nunca foi tão gratificante dividir. E se eu soubesse lá atrás, sentada no chão do quarto, que esse seria um dos rumos do que escrevo, nunca teria me perguntado: por que devo escrever?

Porque deu saudade...


Sentir é particular. Não se aprende na escola, é lição que o cotidiano dá. É tarefa diária, dever de casa obrigatório. É o que define o quanto você evoluiu ou estagnou. Se é capaz de ver graça mesmo sem grandes eventos ou se é totalmente dependente de um acontecimento grandioso para se sentir tocado. Sentir é o que te diferencia dos outros, pois é aquilo que o impulsiona a agir -- e contra fatos (e atos) não há argumentos.

Você pode tentar transparecer o que quiser, mas só é capaz de ser aquilo que está ao alcance dos seus sentidos.

Foto: Adélia Prado fez Paraty chorar na Flip de 2006, quando falou sobre a importância das emoções e experiências em nossas vidas.
Foto: Cecília Meireles

Wonderful


A gente lê pra viver em outra pele. Conversa pra materializar na mente as palavras. Escuta pra fazer parte de uma história que não é nossa. A gente vai ao cinema pra assistir ao improvável. Frequenta o teatro pra ser espectador do surreal. Fotografa pra congelar uma cena e depois recriar sua história na memória quantas vezes for preciso.

A imaginação é o antídoto do tédio!

Tem momentos que adoro ficar sozinha
Só eu, minhas música e leituras...
Eu me sinto em ótima companhia e me suporto muito bem





Amooo



"Eu sempre digo que eu posso ter uma solidão medonha, mas sempre vai haver um vasinho de flores num canto. A gente pode enfeitar a amargura."

 *Caio F. Abreu




Tenho uma espécie de dever de sonhar sempre, pois, não sendo mais, nem querendo ser mais, que um espectador de mim mesmo, tenho que ter o melhor espetáculo que posso. Assim me construo a ouro e sedas, em salas supostas, palco falso, cenário antigo, sonho criado entre jogos de luzes brandas e músicas invisíveis.


Fernando Pessoa



Saberás que não te amo e que te amo.
Porquanto de dois modos é a vida,
a palavra é uma asa do silêncio,
o fogo tem sua metade fria.

Eu te amo para começar a te amar,
para recomeçar o infinito
e para não deixar de te amar nunca:
por isso mesmo é que ainda não te amo.

Te amo e não te amo como se tivesse
em minhas mãos as chaves da ventura
e um incerto destino desditado.

Meu amor tem duas vidas para amar-te.
Por isso te amo quando não te amo
e por isso te amor quando te amo.

(Pablo Neruda)
Quero

Quero que todos os dias do ano
todos os dias da vida
de meia em meia hora
de 5 em 5 minutos
me digas: Eu te amo.

Ouvindo-te dizer: Eu te amo,
creio, no momento, que sou amado.
No momento anterior
e no seguinte,
como sabê-lo?

Quero que me repitas até a exaustão
que me amas que me amas que me amas.
Do contrário evapora-se a amação
pois ao não dizer: Eu te amo,
desmentes
apagas
teu amor por mim.

Exijo de ti o perene comunicado.
Não exijo senão isto,
isto sempre, isto cada vez mais.
Quero ser amado por e em tua palavra
nem sei de outra maneira a não ser esta
de reconhecer o dom amoroso,
a perfeita maneira de saber-se amado:
amor na raiz da palavra
e na sua emissão,
amor
saltando da língua nacional,
amor
feito som
vibração espacial.

No momento em que não me dizes:
Eu te amo,
inexoravelmente sei
que deixaste de amar-me,
que nunca me amastes antes.

Se não me disseres urgente repetido
Eu te amoamoamoamoamo,
verdade fulminante que acabas de desentranhar,
eu me precipito no caos,
essa coleção de objetos de não-amor.

Carlos Drummond de Andrade
Das Utopias

Se as coisas são inatingíveis... ora!
não é motivo para não querê-las...
Que tristes os caminhos, se não fora
a mágica presença das estrelas! 

Mário Quintana