terça-feira, 29 de julho de 2014

"O que há em mim é sobretudo cansaço, não disto nem daquilo, nem sequer de tudo ou de nada: Cansaço assim mesmo, ele mesmo, cansaço. A subtileza das sensações inúteis, as paixões violentas por coisa nenhuma, os amores intensos por o suposto alguém. Essas coisas todas - essas e o que faz falta nelas eternamente -; Tudo isso faz um cansaço, este cansaço, cansaço. Há sem dúvida quem ame o infinito, há sem dúvida quem deseje o impossível, há sem dúvida quem não queira nada - três tipos de idealistas, e eu nenhum deles: Porque eu amo infinitamente o finito, porque eu desejo impossivelmente o possível, porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser, ou até se não puder ser… E o resultado? Para eles a vida vivida ou sonhada, para eles o sonho sonhado ou vivido, para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto… Para mim só um grande, um profundo, E, ah com que felicidade infecundo, cansaço, um supremíssimo cansaço. Íssimo, íssimo. íssimo, cansaço."

— Álvaro de Campos