Se escrevo o que sinto é porque assim diminuo a febre de sentir.
domingo, 28 de julho de 2013
sábado, 27 de julho de 2013
"Bastaria as pessoas serem mais sinceras, honestas e humildes, que veríamos comportamentos maravilhosamente diversificados, personalidades espontaneamente interessantes, equívocos rapidamente resolvidos, decisões amplamente mais libertas, preconceitos instantaneamente eliminados e atitudes surpreendentemente menos egoístas."
— Friedrich Nietzsche.
— Friedrich Nietzsche.
"Não sei… se a vida é curta
ou longa demais para nós,
mas, sei que nada
do que vivemos tem sentido,
se não tocamos o coração das pessoas.
Muitas vezes basta ser:
o colo que acolhe,
o braço que envolve,
a palavra que conforta,
o silêncio que respeita,
a alegria que contagia,
a lágrima que corre,
o olhar que acaricia,
o desejo que sacia,
o amor que promove.
E isso não é coisa de outro mundo,
é o que dá sentido à vida.
É o que faz com que ela não
seja nem curta, nem longa demais,
mas que seja intensa, verdadeira,
pura enquanto ela durar…"
ou longa demais para nós,
mas, sei que nada
do que vivemos tem sentido,
se não tocamos o coração das pessoas.
Muitas vezes basta ser:
o colo que acolhe,
o braço que envolve,
a palavra que conforta,
o silêncio que respeita,
a alegria que contagia,
a lágrima que corre,
o olhar que acaricia,
o desejo que sacia,
o amor que promove.
E isso não é coisa de outro mundo,
é o que dá sentido à vida.
É o que faz com que ela não
seja nem curta, nem longa demais,
mas que seja intensa, verdadeira,
pura enquanto ela durar…"
— Cora Coralina
Sou uma mulher de gostos e versos. Um pouco ladra, eu diria. Roubo histórias, bordo palavras, costuro sonhos, desato pensamentos. Coisas de quem escreve, encare assim. Quem fica ao meu redor tem que entender que, vez em sempre, algo será tomado para e por mim, sem dó. Me aproprio indevidamente de vidas e falas. Não leve a mal se por ventura algum dia o seu sossego for passear junto comigo. E se por acaso a insônia se tornar a sua melhor amiga, admita que eu venci. Gosto de esfregar na cara do suposto adversário as minhas vitórias. Em certas ocasiões o mais digno é engolir tudo elegantemente.
Clarissa corrêa
Clarissa corrêa
domingo, 21 de julho de 2013
sexta-feira, 19 de julho de 2013
CONVITE
Eu te direi minha verdade
e ouvirei a tua
Aceitarei tua realidade
Farei de tua palavra
minha palavra
Do teu canto
o meu canto
De tua lágrima
minha lágrima
De teu sorriso
meu sorriso.
Venha, vamos, partamos!
Esqueçamos essa gente amarga
e sua vã filosofia.
Os homens ruins, isto é
aqueles que profissionalizam tudo
inclusive o amor.
Vamos ganhar tempo em busca
de novos horizontes.
Vamos dialogar com os pássaros
cultivar as flores
admirar as estrelas
amar o verde dos campos
o azul do céu e curtir esta tarde fogosa
que dança no espaço.
Vamos crescer na pureza dessa noite criança que não tarda chegar e
renascer com o sol da manhã que por certo virá.
Vamos construir um tempo novo,
uma existência nossa.
E amanhã, quando o peso dos anos
marcar nossos cabelos
e enrouquecer nossa voz
Eu te direi (com a mesma emoção de hoje)
Que te amo!
e sua vã filosofia.
Os homens ruins, isto é
aqueles que profissionalizam tudo
inclusive o amor.
Vamos ganhar tempo em busca
de novos horizontes.
Vamos dialogar com os pássaros
cultivar as flores
admirar as estrelas
amar o verde dos campos
o azul do céu e curtir esta tarde fogosa
que dança no espaço.
Vamos crescer na pureza dessa noite criança que não tarda chegar e
renascer com o sol da manhã que por certo virá.
Vamos construir um tempo novo,
uma existência nossa.
E amanhã, quando o peso dos anos
marcar nossos cabelos
e enrouquecer nossa voz
Eu te direi (com a mesma emoção de hoje)
Que te amo!
quinta-feira, 18 de julho de 2013
Estou tão cansada. Estou tão, tão cansada! Minha vida tem sido um amontoado de palavras, M. Quase não falo, mas escrevo tudo o que não escrevi durante toda a minha existência. E tenho refletido sobre esta relação obsessiva que o escritor tem com a palavra. Pois, apesar da minha profunda necessidade dela, sua aproximação é muito tímida às vezes, e fico com todos os meus sentimentos desamparados de frases. Apenas sentir, sentir, sentir demais me entorpece, instiga minha insanidade e provoca uma profusão de diálogos e monólogos absurdos dentro de mim. Será que alguém repensa a própria existência e vive este processo de mergulhos até perder o fôlego intencionando respirar, por um segundo que seja, na superfície das coisas?
Completamente EU
Por isso, antes de me julgar, faça as pazes contigo.
Marla de Queiroz
Trago no corpo
Cicatrizes subcutâneas.
Trago no olhar
Uma tristeza subterrânea
Que o meu sorriso
Se empenhou
Em aniquilar.
Eu nunca fui vítima de nada
Mesmo quando me afoguei
Por não saber nadar.
Eu escolhi o mergulho
E corri o risco
De vivenciar minhas emoções
Em alto mar.
Trago na alma
Alegrias decorrentes
De uma parca memória.
Tenho um passado pesado
Mas reescrevi minha história.
Trago no peito
Apenas amor, gratidão.
A vida me ensinou
Que sobreviver à derrota
É uma grande vitória:
Superação.
Marla de Queiroz
Vou pela praia
Sempre que entro em táxi no Rio de Janeiro, o motorista me pergunta:
— Vamos pela praia?
Eu não questiono se o caminho será mais longo ou mais curto, digo sim.
Não ligo meu GPS para acompanhar. Não avalio a rota, não procuro me mostrar íntimo das ruas para reduzir o valor da corrida.
Automaticamente digo sim. Intuitivamente digo sim.
Como porto-alegrense desprovido de horizonte marítimo, não tenho como negar. Não tenho como me opor ao luxo libertino das águas.
Acho que ninguém desfruta da coragem de recusar o convite de seguir pela orla. Nenhum turista enfrentará a tentação.
O taxista carioca se aproveita da paisagem. Ruma por Copacabana, ruma pela Barra, por onde as ondas quebram, por onde as ondas cochicham segredos e ostras.
Ele pode estar me roubando, pode estar se valendo do meu total desconhecimento da cartografia.
Azar, dou de ombros à pequeneza. Minha ânsia é pela vastidão da areia. Pela liberdade dos navios. Pelo voo rasante dos pássaros.
Não há como recusar a praia. Mesmo que faça chuva, mesmo que as nuvens sequestrem o Cristo Redentor, mesmo que a neblina engula o Pão de Açúcar.
A maresia me seduz. O mar perdoa minha avareza.
Todas as casas correm para a praia. Todos os prédios do Rio de Janeiro desembocam na praia. A praia é o único acesso permitido ao devaneio.
Assim é o amor. Vou pela praia. Não me importo de chegar depois. Não reclamarei das dificuldades do trânsito, da lentidão dos motoristas, da bandeira 2, da taxa de bagagem.
Não ficarei reparando se gastarei mais do que possuo. Não ficarei controlando se serei enganado ou traído. O que não quero perder é o oceano me acenando. Não quero extraviar as grinaldas imaculadas da maré e as luzes se multiplicando na superfície azulada.
Não ficarei sofrendo com hipóteses, não me colocarei como refém do repuxo, vou pela praia.
Não ficarei me prevenindo da dor, sonegando promessas, evitando cobranças, tentando diminuir a expectativa de eternidade da relação. Não me enganarei com a bula, não usarei feridas antigas para me censurar.
Vou pela praia. Aviso a minha mulher que nunca iremos nos separar. Assumo o risco: fé é amor entre duas pessoas, já ternura sozinha é melancolia.
Vou pela praia. Amar é ir pela praia. É dar uma volta imensa em nossa vida para nadar nos olhos do infinito.
— Vamos pela praia?
Eu não questiono se o caminho será mais longo ou mais curto, digo sim.
Não ligo meu GPS para acompanhar. Não avalio a rota, não procuro me mostrar íntimo das ruas para reduzir o valor da corrida.
Automaticamente digo sim. Intuitivamente digo sim.
Como porto-alegrense desprovido de horizonte marítimo, não tenho como negar. Não tenho como me opor ao luxo libertino das águas.
Acho que ninguém desfruta da coragem de recusar o convite de seguir pela orla. Nenhum turista enfrentará a tentação.
O taxista carioca se aproveita da paisagem. Ruma por Copacabana, ruma pela Barra, por onde as ondas quebram, por onde as ondas cochicham segredos e ostras.
Ele pode estar me roubando, pode estar se valendo do meu total desconhecimento da cartografia.
Azar, dou de ombros à pequeneza. Minha ânsia é pela vastidão da areia. Pela liberdade dos navios. Pelo voo rasante dos pássaros.
Não há como recusar a praia. Mesmo que faça chuva, mesmo que as nuvens sequestrem o Cristo Redentor, mesmo que a neblina engula o Pão de Açúcar.
A maresia me seduz. O mar perdoa minha avareza.
Todas as casas correm para a praia. Todos os prédios do Rio de Janeiro desembocam na praia. A praia é o único acesso permitido ao devaneio.
Assim é o amor. Vou pela praia. Não me importo de chegar depois. Não reclamarei das dificuldades do trânsito, da lentidão dos motoristas, da bandeira 2, da taxa de bagagem.
Não ficarei reparando se gastarei mais do que possuo. Não ficarei controlando se serei enganado ou traído. O que não quero perder é o oceano me acenando. Não quero extraviar as grinaldas imaculadas da maré e as luzes se multiplicando na superfície azulada.
Não ficarei sofrendo com hipóteses, não me colocarei como refém do repuxo, vou pela praia.
Não ficarei me prevenindo da dor, sonegando promessas, evitando cobranças, tentando diminuir a expectativa de eternidade da relação. Não me enganarei com a bula, não usarei feridas antigas para me censurar.
Vou pela praia. Aviso a minha mulher que nunca iremos nos separar. Assumo o risco: fé é amor entre duas pessoas, já ternura sozinha é melancolia.
Vou pela praia. Amar é ir pela praia. É dar uma volta imensa em nossa vida para nadar nos olhos do infinito.
Fabrício Carpinejar
O APAIXONADO JAMAIS ADIA ENCONTRO
Arte de Fatturi
Quem está apaixonado não desmarca encontro.
Cancela trabalho, família, viagem, mas não suspende compromisso.
Assume prejuízo, enfrenta chefia, suporta calado todos os dissabores, mas não abre mão. Não nega o que foi firmado.
Mesmo que tenha trocado o mês ou se confundido com a data, assume o erro como acerto e segue em frente. Troca de turno com colega, compra amigos, arruma atestado médico.
Quem está apaixonado jamais desmarca encontro. Nem altera horário. Não tem coragem de pedir para que seja mais cedo ou mais tarde. Não é capaz de reivindicar 10 minutos a mais ou a menos. Não mexe no assunto. Não adapta planos. Não negocia prazos.
Aceita a data como um desígnio. Uma audiência de Justiça. Uma convocação da Receita Federal. Se não for, tem a sensação de que será preso, condenado por esnobar o amor.
Não brinca com a autoridade do encontro. Receia que não aconteça de novo, não arrisca zombar do destino. Não oferece chance ao azar. Teme um imprevisto, penteia o calendário, apressa o relógio e o coração.
Vive o transe de ser feliz, a hipnose de não pensar em um segundo plano.
Quem está apaixonado não arranja desculpa, inventa saídas.
Quem está apaixonado não se presta a solicitar fiado, paga à vista.
Só aquele que realmente não sente saudade é que adia encontro. Se o café é sempre postergado é que falta vontade.
Adiar compromisso é sinal de desamor. Não precisa de mais nenhuma prova. Não há aquele interesse máximo, aquela tara, aquela dependência.
O sujeito pode ter uma justificativa nobre: imposição do emprego, doença, tragédia. Nenhum pretexto servirá para remendar a esperança.
Não se mexe em encontro entre apaixonados. Deixa para adoecer depois, deixa para morrer depois.
Se alguém liga para reagendar sacrificou a paixão. É aviso fúnebre, é velório da voz. Significa que não está realmente a fim. Demonstra que tem um interesse passageiro, efêmero, pouco sério.
O apaixonado enlouquece com a simples hipótese de não ver mais o outro. Não vai estragar a importância do enlace, diminuir a expectativa, mostrar desapego.
A paixão é um sequestro. O amor é quando pagamos o resgate.
Fabrício Carpinejar
QUANDO MINHAS PALAVRAS VOARAM
Nossa vida não é triste.
Mesmo quando não temos uma alegria, temos uma esperança.
A esperança é a alegria nascendo.
Nunca fui vítima do passado, órfão da memória, coitadinho da infância.
Não me diferenciei pela dor, nem me destaquei pela tristeza.
Detesto reclamar. Reclamar só chama rancor.
O que eu passei, passei, superei de algum jeito, os traumas não me mataram.
As brigas não me levaram ao ódio e ao ressentimento. Não fiquei sequelado.
Aquilo que parecia um sofrimento eterno também esqueci.
Não irei me vangloriar das feridas. Gosto mais das minhas sardas do que das minhas cicatrizes.
Sofri o que aguentei. Aguentar é deixar de sofrer.
Fabrício Carpinejar
Mesmo quando não temos uma alegria, temos uma esperança.
A esperança é a alegria nascendo.
Nunca fui vítima do passado, órfão da memória, coitadinho da infância.
Não me diferenciei pela dor, nem me destaquei pela tristeza.
Detesto reclamar. Reclamar só chama rancor.
O que eu passei, passei, superei de algum jeito, os traumas não me mataram.
As brigas não me levaram ao ódio e ao ressentimento. Não fiquei sequelado.
Aquilo que parecia um sofrimento eterno também esqueci.
Não irei me vangloriar das feridas. Gosto mais das minhas sardas do que das minhas cicatrizes.
Sofri o que aguentei. Aguentar é deixar de sofrer.
Fabrício Carpinejar
domingo, 14 de julho de 2013
"Estar bem e feliz é uma questão de escolha e não de sorte ou mero acaso. É estar perto das pessoas que amamos, que nos fazem bem e que nos querem bem. É saber evitar tudo aquilo que nos incomoda ou faz mal, não hesitando em usar o bom senso, a maturidade obtida com experiências passadas ou mesmo nossa sensibilidade para isso. É distanciar-se de falsidade, inveja e mentiras. Evitar sentimentos corrosivos como o rancor, a raiva e as mágoas, que nos tiram noites de sono e em nada afetam as pessoas responsáveis por causá-los. É valorizar as palavras verdadeiras e os sentimentos sinceros que a nós são destinados. E saber ignorar, de forma mais fina e elegante possível, aqueles que dizem as coisas da boca para fora ou cujas palavras e caráter nunca valeram um milésimo do tempo que você perdeu ao escutá-las. "
Friedrich Nietzsche
"Um dia eu tive a impressão de que o amor tinha chegado. Meio súbito, meio sem jeito, meio calado. E aquele sentimento veio tomando conta feito nuvem preta no céu em dia de temporal. Começou um vento forte dentro de mim, uma sensação de inquietude. E minhas noites não foram mais iguais. Ficava esperando um sinal, uma marca, uma tatuagem. Alguma coisa que me dissesse que, sim, seria bom e duradouro
. Eu queria gritar, pedir socorro, mas a voz não chegava até a boca, não conseguia emitir nenhum som. Eu queria viver, sentir, saber, conhecer mais de perto aquilo que não tinha um nome certo, mas que eu queria que fosse amor. A gente quer que seja amor sempre. Acho que isso acontece porque a gente quer viver uma coisa bonita, uma coisa que todo mundo nessa vida diz que vive ou já viveu."
Clarissa Corrêa
"Quem é feliz não conta, não espalha, não grita aos quatro cantos. Quem é feliz, satisfaze-se por ser. E sabe que felicidade anda coladinha na inveja. Quem é feliz não precisa provar nada, simplesmente é. As pessoas felizes demais nunca me passaram confiança. Essa coisa de que a vida é uma festa e não existe nada errado, não me brilha aos olhos. Feliz é quem conhece o lado ruim e o respeita. Feliz é quem já foi infeliz. Somente quem já foi infeliz pode entender que a tristeza traz um punhado muito bom de aprendizados. Felicidade não é sobre quem grita mais alto; é sobre quem sorri mais fundo."
Clarissa Corrêa
"Não foi à toa que Adélia Prado disse que “erótica é a alma”. Enganam-se aqueles que pensam que erótico é o corpo. O corpo só é erótico pelos mundos que andam nele. A erótica não caminha segundo as direções da carne. Ela vive nos interstíci
os das palavras. Não existe amor que resista a um corpo vazio de fantasias. Um corpo vazio de fantasias é um instrumento mudo, do qual não sai melodia alguma. Por isso, Nietzsche disse que só existe uma pergunta a ser feita quando se pretende casar: “continuarei a ter prazer em conversar com esta pessoa daqui a 30 anos?"
Rubem Alves
"Eu quero crescer. Juro, quero mesmo. Quero aprender línguas que não sei. Quero conhecer novas culturas, povos, lugares. Quero me desapegar do velho. Quero não me fechar para as mudanças e para o novo. Quero dar amor, afinal, é ele a grande
essência da vida. Quero não acumular rancores nem alimentar mágoas. Quero aprender a me pedir desculpa. Quero abandonar algumas saudades. Quero aprender a conviver com o que não posso modificar. Quero me mover mais e mais e mudar o que está ao meu alcance. Quero pouco e quero muito. Quero nada e quero tudo. Quero esquecer o que precisa ser esquecido. Quero nunca deixar de sorrir. Quero aprender a descascar laranja. Quero perder o medo de trovão. Quero ir. E vir. Mas nunca, nunca mesmo, deixar de sentir."
Clarissa Corrêa
"Duas pessoas podem ser destinadas a ficarem juntas? Feitas uma para a outra? Almas gêmeas? Seria bom se fosse verdade… que todos temos alguém esperando por nós. Nós esperando por eles. Não sei se acredito.
Talvez eu acredite… nessa coisa de destino. Por que não acreditar? Sério.. Quem não quer mais romances em suas vidas? Talvez só dependa de nós fazer acontecer. Apareceremos e sermos o destino do outro. Pelo menos, desse jeito, você terá certeza… Se foram feitos um para o outro… ou não."
Grey's Anatomy
"Cometa bobagens. Não pense demais porque o pensamento já mudou assim que se pensou. O que acontece normalmente, encaixado, sem arestas, não é lembrado. Ninguém lembra do que foi normal. Lembramos do porre, do fora, do desaforo, dos enganos, das cenas patéticas em que nos declaramos em público.
Cometa bobagens. Dispute uma corrida com o silêncio. Não há anjo a salvar os ouvidos, não há semideus a cerrar a boca para que o seu futuro do passado não seja ressentimento. Demita o guarda-chuva, desafie a timidez, converse mais do que o permitido, coma melancia e vá tomar banho de rio. Mexa as chaves no bolso para despertar uma porta. Cometa bobagens. Não compre manual para criar os filhos, para prender o gozo, para despistar os fantasmas. Não existe manual que ensine a cometer bobagens. Não seja sério; a seriedade é duvidosa; seja alegre; a alegria é interrogativa. Quem ri não devolve o ar que respira. Não atravesse o corpo na faixa de segurança. Grite para o vizinho que você não suporta mais não ser incomodado. Use roupas com alguma lembrança. Use a memória das roupas mais do que as próprias roupas. Desista da agenda, dos papéis amarelos, de qualquer informação que não seja um bilhete de trem. Procure falar o que não vem à cabeça. Cantarolar uma música ainda sem letra. Deixe varrerem seus pés, case sem namorar, namore sem casar. Seja imprudente porque, quando se anda em linha reta, não há histórias para contar. Leve uma árvore para passear. Chore nos filmes babacas, durma nos filmes sérios. Não espere as segundas intenções para chegar às primeiras. Não diga “eu sei, eu sei”, quando nem ouviu direito. Almoce sozinho para sentir saudades do que não foi servido em sua vida. Ligue sem motivo para o amigo, leia o livro sem procurar coerência, ame sem pedir contrato, esqueça de ser o que os outros esperam para ser os outros em você. Transforme o sapato em um barco, ponha-o na água com a sua foto dentro. Não arrume a casa na segunda-feira. Não sofra com o fim do domingo. Alterne a respiração com um beijo. Volte tarde. Dispense o casaco para se gripar. Solte palavrão para valorizar depois cada palavra de afeto. Complique o que é muito simples. Conte uma piada sem rir antes. Não chore para chantagear. Cometa bobagens. Ninguém lembra do que foi normal. Que as suas lembranças não sejam o que ficou por dizer. É preferível a coragem da mentira à covardia da verdade."
Fabrício Carpinejar
O que eu queria que entendesses é que sou uma pessoa. Com certa inteligência, certa cultura, certa sensibilidade. E certas idéias (que não te agradam). Mudei muito, e não preciso que acreditem na minha mudança para que eu tenha mudado. Essa modificação vinha se processando sem que eu mesmo percebesse e, com determinadas leituras e determinadas vivências, ela se consumou.
(Caio Fernando Abreu. Carta a Hilda Hilst)
FUTUROS AMANTES
Não se afobe, não
Que nada é pra já
O amor não tem pressa
Ele pode esperar em silêncio
Num fundo de armário
Na posta-restante
Milênios, milênios
No ar
E quem sabe, então
O Rio será
Alguma cidade submersa
Os escafandristas virão
Explorar sua casa
Seu quarto, suas coisas
Sua alma, desvãos
Sábios em vão
Tentarão decifrar
O eco de antigas palavras
Fragmentos de cartas, poemas
Mentiras, retratos
Vestígios de estranha civilização
Não se afobe, não
Que nada é pra já
Amores serão sempre amáveis
Futuros amantes, quiçá
Se amarão sem saber
Com o amor que eu um dia
Deixei pra você
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